Evento e Entrevista: entrevistamos a equipe de Flyp durante o lançamento do primeiro volume da HQ!
- Redação

- 12 de fev. de 2019
- 9 min de leitura
Atualizado: 30 de mai. de 2019

Nó é uma gata que vive com sua mãe Isabéeela na Floresta Espiral. Desde filhote ela tem o sonho de se tornar paladina da Guarda Real, contudo, graças a uma nova lei que surgiu no reino, esse sonho pode estar mais longe de se tornar realidade. Para descobrir o que Nó fará para vencer esse empecilho e se conseguirá realizar seu sonho, basta ler a Flyp, que já está à venda em versão física e digital.
Se você nunca ouviu falar da Flyp, provavelmente não leu nosso artigo sobre o Janeiro Geek, isso porque os autores Lucas Cangussu e Henry Schumann costumam marcar presença em vários eventos daqui de Brasília. No último sábado, 9 de fevereiro, foi a vez de lançarem o Vol. 1 da HQ Flyp aqui no quadradinho, em um evento incrível organizado na loja Cosmos Criativo, na Asa Norte.
Posso começar dizendo que apenas por passar pela Cosmo e dar uma paradinha na mesa da Flyp você ganhava um card holográfico exclusivo com a imagem da Nó. Além disso, era possível conhecer todos os integrantes da equipe da Flyp, que apareceram em público juntos pela primeira vez. E se isso não parece estímulo o suficiente para comparecer aos próximos lançamentos daqui de Brasília, a equipe preparou um super lanche de graça para quem passasse por lá.


Quem já leu a história ou acompanha o pessoal pelas redes sociais já podia esperar que o evento fosse bem animado, porque a galera é cheia de energia, além de divertida. E, para nossa alegria, Henry, o ilustrador, e Lucas, o roteirista, aceitaram conceder uma entrevista para nós do Quadrado Literário. Quer conferir? Vem com a gente!
QL: Vamos começar com uma pergunta básica: como surgiu a ideia de criar a Flyp?
Henry: Eu comecei a desenhar alguns bichinhos de classe de RPG¹, tipo gato com espada, cachorro com escudo, e como eu convivia muito com o Lucas, ele colocava nomes. Daí um dia a gente falou “Ah, vamos criar uma história com esses personagens”. Além disso, teve um concurso da loja FNAC entre 2014 e 2015 no qual você tinha que criar um personagem e um nome e enviar para eles. Então eu criei a Isabéeela e o Gecko, mas só os desenhos, o Lucas que deu os nomes. Não ganhamos o concurso, mas foi isso que nos fez querer criar a história.
QL: E quais foram suas inspirações para escrever os quadrinhos?
Henry: Na narrativa visual, Yu-Gi-Oh é minha maior inspiração. É um mangá que já li cinco vezes e tem 38 volumes, então eu gosto muito. Mas, no geral, a gente se inspira muito mais em anime, coisas que a gente assiste ou assistiu em comum. Jogos também, mas o quadrinho que mais inspirou foi Yu-Gi-Oh.
Lucas: Eu não acho que teve algo específico para inspirar o roteiro de Flyp, mas teve o contato com várias obras. Então eu acho que são mais as coisas que a gente gosta que inspiram visualmente e narrativamente.
QL: E de onde surgiu o nome Flyp?
Henry: A gente não sabia que nome dar para o quadrinho, então fizemos um brainstorm e falamos vários nomes, tanto que no começo se chamava Furry RPG. Aí nesse processo surgiu o nome Flyp. E antes era Flip (com i), mas trocamos porque tem o Festival Literário Internacional de Parati (FLIP), e aí a gente trocou por Flyp (com y).
Lucas: A ideia de Flyp, além de ter encaixado muito bem no brainstorm, era uma palavra fácil de falar, de lembrar, simples, pequena. Encaixava muito bem com a ideia de fazer um quadrinho físico, que tem a ideia de virar a página, e com a ideia de virar a moeda, porque no começo a gente queria contar uma história com duas perspectivas.
Henry: Ainda quer, né?
Lucas: É, a ideia ainda é essa, mas...
Henry: Ainda está no primeiro volume, tem que fazer o resto.
Interrompemos essa entrevista para essa notícia bombástica! Imagina Flyp com dois pontos de vista! Quem seria o/a outro/a protagonista? Será que já apareceu? Será que ainda vai aparecer? Eu tenho minhas apostas no Cavaleiro Misterioso e na Joana B’ark, mas também não ia reclamar nada se fosse a Isabéeela, ainda mais se fosse para contar de um certo passado da história. Então já deixo desde agora a curiosidade e as teorias de conspiração para vocês acompanharem quem mais terá sua perspectiva apontada.
QL: E a ideia para criar cada personagem, veio de onde?
Henry: A maioria dos personagens a gente criava por diversão, tipo “ah, essa aqui é a heroína da Guarda Real”.
Lucas: Os primeiros personagens foram a Isabéeela e o Gecko, para o concurso, e depois teve a (Joana) B’ark e o Mooscles.
Henry: Também teve um monte de personagem que a gente acabou não usando, personagens variados. O último personagem criado mesmo foi a Nó.
Lucas: A protagonista.
Henry: Porque a gente criou um mundo inteiro em volta e a gente não sabia como amarrar a história, inclusive por isso que o nome dela é Nó, porque ela amarra a história.
Lucas: No começo inclusive era um menino, era o Nó.
Henry: Só que aí, por falta de protagonistas femininas nas história e por acharmos que a maioria das protagonistas femininas sempre é um negócio ligado a delicadeza, feminilidade, a gente pensou assim “o Nó é um gato menino que quer ser um paladino guerreiro, e tem milhares de histórias assim. Não tem quase nenhuma história assim de uma garota fazendo isso”. Então não mudou em nada os nossos esforços, mudou só um pouco do design de personagem e não mudou em nada na escrita, porque você escrever um personagem masculino ou feminino, sem o gênero ser necessariamente importante para o personagem, é a mesma coisa. Não teve nenhuma dificuldade a mais.
Lucas: Ela virou a Nó.
Por falta de protagonistas femininas nas história e por acharmos que a maioria das protagonistas femininas sempre é um negócio ligado a delicadeza, feminilidade, a gente pensou assim “o Nó é um gato menino que quer ser um paladino guerreiro, e tem milhares de histórias assim. Não tem quase nenhuma história assim de uma garota fazendo isso”
QL: Algum deles é inspirado em pessoas da vida real?
Henry: Só a Joana B’ark.
Lucas: Só a Joana B’ark mesmo. Mas assim, não tem nenhuma inspiração direta, né?
Henry: É, por exemplo, a Isabéeela é a mãe, então a gente pega aquelas coisas que mãe faz e coloca no personagem.
Lucas: Tem muitas experiências nossas com nossas mães no meio e tudo mais.
Henry: Então acaba que não é de pessoas específicas, mas é de coisas que a gente vive e de experiências que a gente tem contato, estuda, enfim.
QL: E qual dos personagens vocês escolheriam para embarcar em uma aventura com vocês?
Henry: A Nó. (Olhar para o Lucas) Eu já sei até quem você ia escolher.
Lucas: Joana B’ark!
Henry: A gente ia partir em barcos separados, a Nó é muito mais legal.
Lucas: Na verdade partiria todo mundo junto no mesmo barco (risos).
QL: Agora mudando um pouco o assunto: no site da Flyp vocês contam que demorou um ano entre a pré-produção e a postagem dos quadrinhos. Vocês podem falar o processo e o que aprenderam com ele?
Henry: (Aprendi) Que o quadrinho só vai existir se a gente se esforçar e colocar o nosso coração no que a gente vai fazer. Porque, primeiro, é um projeto independente, não tem ninguém financiando a gente nem nada. Queríamos muito, mas a gente se financia vendendo quadrinhos para os fãs, para quem acredita no nosso trabalho. Também aprendi que o trabalho em equipe nem sempre é o que a gente idealiza, que temos que aprender a conviver com pessoas diferentes. Não é tipo “existe um trabalho X a ser feito e ele vai ser feito da forma X exatamente”. Existem imprevistos e a gente tem que saber lidar com eles, tanto os vindos do trabalho, quanto da personalidade das pessoas. Temos muito que nos respeitar em relação a isso, porque as pessoas são diferentes.
Lucas: Foi um processo bem longo na criação, a gente idealizou muito no começo, mas a faculdade meio que tomava um pouco do tempo que a gente podia dispor para o quadrinho. Quando a faculdade acabou foi que a gente começou, aos poucos, a produzir, a focar nele com força total. E, claro, se adaptando, aprendendo a trabalhar um com o outro e tudo mais.
O quadrinho só vai existir se a gente se esforçar e colocar o nosso coração no que a gente vai fazer. (...) Existem imprevistos e a gente tem que saber lidar com eles, tanto os vindos do trabalho, quanto da personalidade das pessoas. Temos muito que nos respeitar em relação a isso, porque as pessoas são diferentes
QL: Atualmente a Flyp também é postada semanalmente no Tapas, que é um site onde boa parte dos quadrinhos é em inglês. Como vocês conheceram o site e como foi a decisão de postar uma HQ brasiliense por lá?
Henry: É sempre uma ideia de acesso, né? Porque a gente sabe que o público brasileiro não necessariamente lê, em todos os aspectos, seja livro ou quadrinho, então a gente quis deixar da forma mais fácil para as pessoas conseguirem acessar nosso quadrinho. Até porque eu acredito muito que a arte não tem que ser um negócio resguardado para elite, qualquer pessoa que tiver vontade de consumir ou de interpretar a arte tem que ter acesso. Aí publicamos gratuitamente para ter esse acesso não só no Brasil, mas também lá fora. Por isso que a gente publica em inglês e em português.
Lucas: Desde o começo que a gente decidiu que ia postar online também, o quadrinho em inglês fazia parte dos nossos planos. A gente sabia que esses sites de leitura online tinha um foco muito maior estrangeiro, apesar de ter um público brasileiro dentro. Então a gente queria fornecer nosso quadrinho para maior quantidade de pessoas possível, para elas poderem ler e conhecer nosso trabalho. E o Tapas, especificamente, eles ajudam muito quadrinistas novos.
Henry: Quando a gente começou a postar eles colocavam na frente do site.
Lucas: Então isso ajudou muito a conseguir novos leitores. O Tapas foi muito bom nesse quesito.
QL: Para lançar esse primeiro volume da Flyp vocês realizaram um financiamento coletivo. O resultado foi o que vocês esperavam ou superou as expectativas?
Henry: A gente planejou o projeto para ele ser da forma mais barata possível. Primeiro que a gente já fazia em preto e branco, o que já barateia a impressão. Segundo que a gente procurou gráficas em que o preço saísse mais em conta. Íamos fazer a versão mais simples possível para que a gente conseguisse atingir a meta. Nossa meta inicial era de R$ 4,5 mil, o que no cenário de produção de quadrinhos no Brasil é baixo. Hoje a gente vê projetos de R$ 10 mil.
Lucas: Os projetos em que a gente se inspirou para fazer a estética, o projeto e o texto do nosso eram projetos de R$ 9 mil, R$ 10 mil...
Henry: Mas também o que a gente pensou foi de o financiamento coletivo cobrir só o custo das recompensas e da impressão. Ele não ia necessariamente cobrir nosso trabalho. A gente tinha a expectativa que nosso trabalho ia ser coberto pelas vendas do quadrinho. Então superou as expectativas, porque a gente fez a meta de R$ 4,5 mil e conseguiu atingir quase R$ 10 mil.
Lucas: Sim, a gente conseguiu atingir duas das nossas metas estendidas. A primeira meta era de 500 volumes, a segunda era de 1 mil e a terceira era a fazer um volume de luxo, com a luva e tudo mais. A gente conseguiu atingir todas as metas que queria e, nesse quesito, com certeza, superou expetativas e foi muito bom.

QL: Para fechar, qual é a principal mensagem que vocês acreditam que a Flyp passa para os leitores?
Henry: Nunca desista dos seus sonhos e lute por eles se tiver que lutar.
Lucas: Não aceite injustiças, por mais que todo mundo aceite.
Henry: Olha só, complementou bem. Eu vou tatuar isso que você disse. (risos)
Não aceite injustiças, por mais que todo mundo aceite
(Foto v.1+card) Atualmente a versão física dos quadrinhos é vendida exclusivamente pelos produtores, tanto online quanto nos eventos. Então, se você é de Brasília e está curioso com a história, fica de olho na nossa Agenda para comprar a Flyp no próximo evento e não pagar frete #FicaaDica.

Caso você não queira esperar para acompanhar essa história fabulosa, os capítulos em ebook já estão disponíveis da Amazon nas versões em Português e em Inglês. Corra e garanta já o seu.
E se você já leu o primeiro volume e quer saber do segundo, fontes seguras – os produtores – informaram que o plano é lançar um volume por ano. Como o primeiro apareceu pela primeira vez na Comic Con Experience (CCXP) de 2018, acho justo nos prepararmos para um novo volume ainda em 2019.
Por fim, deixo mais uma vez o convite para que você participe dos eventos daqui de Brasília. Além de conhecer um pessoal incrível e apoiar a literatura local, você vai ver que valem muito a pena e o melhor: são de graça! Na próxima vez que vir um evento na agenda do QL, lembre-se disso!
1-Role Play Game: jogo de interpretação de papéis em que o jogador interpreta um personagem em uma história e suas ações dependem do sistema no qual está jogando e da sua sorte nos dados.





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