Literatura e esporte: Conheça a obra de Clara Arreguy

Michael Rios
2 de dez. de 2018
3 min de leitura

Atualizado: 30 de mai. de 2019

Em Segunda Divisão, autora mostra que mulheres também estão envolvidas no esporte e têm voz ativa quando o assunto é futebol

“O que mais me impressiona no livro é o conhecimento que tem a Clara Arreguy desse mundo, especialmente de jogadores de clubes de segunda divisão, que não são conhecidos e badalados como os grandes craques da série A”, logo no prefácio de Segunda Divisão encontra-se este comentário de Tostão, um dos grandes jogadores do futebol nacional. Antigo jogador do Cruzeiro, ele faz sua contribuição ao livro de Clara e afirma: “Somente uma mulher, com sensibilidade e conhecimento do assunto, poderia fazer isso com tanta realidade poesia e clareza – sem trocadilhos”.

Segunda Divisão foi lançado ainda em 2005 e se tornou o primeiro romance de ficção escrito pela jornalista, que veio de Minas Gerais a pedido do jornal Correio Braziliense e aqui ficou. Atualmente Clara Arreguy tem 20 livros publicados, entre romances, contos, crônicas, biografias e livros infanto-juvenis. Além disso, mantém um blog literário, integra o movimento Mulheres das Letras e dirige a Outubro Edições, editora criada por ela para publicar livros próprios e de outros autores.

Sobre seu primeiro romance, pontua que o objetivo foi trazer uma história sobre o esporte longe de todo o glamour e exaltações. “Foi um dia assistindo a um jogo da série B e vendo a emoção com que um jogador falava que me emocionei e me toquei que poderia escrever sobre futebol. Por que eu sabia, entendia e acompanhava desde a infância”, lembra a autora.

“Foi um dia assistindo a um jogo da série B e vendo a emoção com que um jogador falava que me emocionei e me toquei que poderia escrever sobre futebol. Por que eu sabia, entendia e acompanhava desde a infância”

A partir disso, surgiu um compilado de histórias que falam a respeito de jogadores que não saem no Fantástico e não são manchetes ou novatos e jogadores em fim de carreira que já tinham vivido seu auge e estavam na decadência, ainda tentando sobreviver no mundo do futebol. “Vi que era aquela emoção de jogadores mais simples que eu queria captar”, acrescenta Clara.

A história da autora com o esporte

“Muitas pessoas, ao lerem meu livro, me perguntam se fiz algum laboratório ou fui a muitos clubes para acompanhar o reino dos jogadores. A resposta é que não fiz nada disso. O que há no livro é um olhar de quem acompanha e gosta de futebol — se permitindo entrar naquele universo e fazer algo que toque as pessoas”, esclarece Clara.

Na faculdade ela chegou a jogar futebol, mesmo não sendo uma esportista. Desde a inauguração do Mineirão (em Belo Horizonte) frequentou o estádio com o pai. “Comecei a ir ao campo por volta dos sete anos. Primeiro com o meu pai, depois na adolescência passei a ir sozinha — isso em uma época em que uma mulher não ia assim sozinha a estádios”, lembrou a escritora que se acostumou a pegar o ônibus para o centro de Belo Horizonte e, quando começou a trabalhar, juntava o dinheiro do táxi para encontrar os amigos e assistir aos jogos.

Essa aproximação desde a infância fez com que Clara se familiarizasse com aquele universo e escrevesse sobre, inclusive para quem não está familiarizado com o esporte. "Tenho uma amiga que detesta futebol, mas ela quis ler o livro e, quando acabou, me ligou falando que adorou — e que até descobriu o que é ‘impedimento’".