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A prosa de Valeria Luiselli

  • Foto do escritor: Michael Rios
    Michael Rios
  • 21 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

Em determinado momento do novo livro da escritora mexicana Valeria Luiselli, Arquivo das crianças perdidas, uma personagem diz à outra:


Nossas mães nos ensinam a falar, e o mundo nos ensina a calar a boca.

É uma frase forte e significativa, como tudo que está na obra, recém-lançada por aqui.


Quem ainda não conhece Valeria Luiselli pode ir correndo conhecer. A novelista se destacou com seu primeiro romance ficcional, Rostos na multidão que, com sua narrativa fragmentada sobre o tédio da maternidade e de toda uma vida que poderia ter sido, me fisgaram de pronto. Ok, confesso que odiei (talvez por não ter entendido) o segundo livro dela, A história dos meus dentes. Em o Arquivo das crianças perdidas, voltei a reconhecer a prosa delicada e cheia de significados.


Aqui, Luiselli se dedica a refletir sobre um tema atual e espinhoso: a crise de imigração que leva milhares de crianças a ficarem presas em centros de detenção dos Estados Unidos. No romance, um casal com dois filhos sem-nome de outros relacionamentos (a menina é só dela, o menino é só dele), cruza o país até o Arizona, em uma espécie de férias que pode culminar em uma trágica separação. Os dois se conheceram quando, juntos, foram escalados para realizar um projeto sobre a Paisagem Sonora da cidade de Nova York, tratando de documentar todas as línguas faladas na metrópole.


O que eu gosto a respeito desta escritora, certamente uma das melhores da atualidade, é a forma como os diálogos se costuram, assim como os espaços de silêncio, e como, especialmente neste livro, as distâncias são sentidas em cada sentença. Enquanto o marido da narradora está embrenhado em uma pesquisa própria sobre o povo Apache, ela está cada vez mais inclinada em pesquisar sobre as crianças perdidas. É, no fundo, uma metáfora sobre a não-existência, sobre fugas, sobre as paisagens sonoras de nós mesmos. Porque, como bem diz a narradora em outro momento, "todos partem, se precisarem, se puderem, ou se tiverem que partir".


Carente que sou de bons lançamentos de escritoras com tamanha carga poética e metafórica, posso dizer: este livro é um achado.


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