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A ridícula ideia de não ler Rosa Montero

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • 9 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de mai. de 2019

Quando falamos de literatura, nada me irrita mais do que um livro no qual o personagem principal é... um escritor ou escritora. Quando todos os dramas existenciais de um plot ficcional chinfrim giram em torno da dificuldade de criar e produzir. Parece-me uma fórmula esgotada, pobre, fruto da dificuldade dos autores contemporâneos de assimilarem outras formas de existência. Levam ao pé da letra a máxima de escrever apenas sobre o que conhecem: escrevem olhando para o próprio umbigo.


Por mais rabugenta que eu posso soar, vá lá, tenho um pouco de razão. Essa é uma realidade comum nos lançamentos contemporâneos, e logo vou perdendo o interesse por eles. Mas parece óbvio que os novos tempos têm trazido um apreço cada vez maior pela vida íntima dos escritores. Prova disso é o sucesso do norueguês Karl Ove Knausgård, que desnudou sua vida pessoal na série Minha Luta (não li).


É claro que os livros estão aí para desconstruir minhas rabugices. Prova disso é o magistral A ridícula ideia de nunca mais te ver, da escritora Rosa Montero, obra poderosa sobre o luto que acaba de ser lançada pela Companhia das Letras. Como eu, Rosa logo explicita suas ressalvas em destrinchar seus dramas pessoais e biográficos em livros demasiadamente pessoais, e tenta evitá-lo. Entretanto, o faz em doses generosas. Graças a Deus.


A primeira sentença do livro já é, por si só, um soco na boca do estômago: "Como não tive filhos, o mais importante que me aconteceu na vida são meus mortos”, escreve Montero. A partir daí, a escritora e jornalista faz um delicioso passeio, que mescla biografia e relato jornalístico, pela vida da cientista Marie Curie. Foi a obsessão da autora por Curie e a forma como a famosa vencedora de dois prêmios Nobel lidou com a morte de seu marido que fez com que Rosa Montero encontrasse as intersecções com sua vida pessoal e a perda recente de seu próprio esposo, Pablo, com quem ela vivia há mais de 20 anos.


Intersecções necessárias e importantes essas que encontramos. Entre outras pessoas reais ou entre personagens fictícios. Parece que esse é o verdadeiro serviço da arte: promover encontros e arroubos pelas vias da empatia. Rosa Montero enxergou a si mesma na narrativa da vida desta mulher que viveu tantos séculos antes. O produto das reflexões que faz é um dos melhores lançamentos do mês passado e merece ser lido.


Tão impactada fiquei que eu, que odiava escritores que escrevem sobre escritores, acabei comprando um outro famoso livro de Rosa, A louca da casa. Que é, principalmente, sobre escrever. Estou adorando.


Não há de se negar o que somos.


Confira outras obras de Rosa Montero:



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