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A teia da sinceridade

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • 12 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

O trio As Bahias e A Cozinha Mineira lançou seu terceiro disco, “Tarântula”, e se você ainda não o ouviu, ponha os fones de ouvido agora mesmo! Te garanto, valerá cada segundo dos 34 minutos que leva para ouvir as dez canções que compõem o álbum.


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É matéria de fogo Em seu jogo tem bala Tem bíblia, tem brasa Brasil! A mátria que te pariu - Da canção “Mátria”

Mais do que canções, as faixas são poesia líquida recheada de metáforas inebriantes, que fazem ver a realidade das pessoas trans com mais clareza do que um documentário ou uma calçada. Nas vozes de Raquel Virgínia e Assucena Assucena, é possível sentir uma parcela sincera da verdade que adoramos encobrir com panos quentes: pessoas trans existem e não estão à parte. Elas existem em nossas rotinas, em nossos círculos, em nossas camas. Existem sem vergonha alguma. Então, por que temos vergonha delas? Essa pergunta é a grande armadilha de “Tarântula”.


Ao contrário da tarântula de Nietzsche, que envenenava a verdade (leia “Assim Falou Zaratustra”), a tarântula das Bahias e a Cozinha Mineira usa a verdade como armadilha. As letras das canções são peludas e peçonhentas por tirarem da sarjeta a violência contra a população trans e levarem ao conforto de seus fones de ouvido.



Enfrentei uma corrente de raiva Desnudei minhas canções Com a carne dos meus versos E beijei todas as bocas e mãos Que pensaram num dia me abandonar - Da canção “Carne dos meus versos”

Fique tranquilo, porém. Nada em “Tarântula” é jogado na sua cara. O grande mérito do álbum é justamente transformar esse lodo em lava, esquentar o ouvinte, obrigá-lo a se mexer. Ainda dói, mas dói dançando.


Esse refinamento do disco é fruto direto dos dois trabalhos anteriores do trio. Enquanto “Mulher” (2015) era lamento cru, em “Bicha” (2017) as lágrimas já começaram a ganhar o brilho do globo de espelhos. Em “Tarântula”, finalmente a festa está completa. E por festa completa entende-se não só a dança: está a dança, o choro, a bebedeira, o romance bobo.


Tóxico romance A noite foi um transe, dance O meu edredom te embalava Tóxico romance Era tudo escondido, proibido Isso me penetrava - Da canção “Tóxico romance”

Curiosamente, a tarântula não é um animal peçonhento. É, inclusive, um dos aracnídeos recomendados como animais domésticos. Dá medo só em quem não conhece. Há metáfora mais perfeita do que o título deste álbum?



Nós Existimos!


Aproveitando que junho é o mês do Orgulho, o QL te convida a conhecer também a série "Nós Existimos! - Visibilidade Trans", publicada no canal de As Bahias e a Cozinha Mineira no Youtube. A série é uma leitura de histórias reais de pessoas LGBTQIA+ que escreveram sobre suas experiências. Raquel e Assucena fazem leitura dramática desses escritos divididos em cinco pequenos episódios,sendo cada episódio a história de uma personagem.


Confira o primeiro:



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1 comentário


Michael Rios
Michael Rios
13 de jun. de 2019

Um dos grandes achados deste ano pra mim. Que banda, minha gente!

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