Literatura e esporte: Conheça “Meu futuro livro sobre futebol”

Michael Rios
23 de out. de 2018
4 min de leitura

Atualizado: 30 de mai. de 2019

Jornalista e escritor, Chico Macedo reúne paixão por futebol e escrita em publicação independente

“Somos apenas meninos. Pés sujos de terra, a chutar bolas mal enchidas entre pedaços de paus, pedras, chinelos de dedo. Não há pressão pelo gol. Toda alegria está no chute, na poeira levantada”. O trecho de Meu futuro livro sobre futebol mostra a intimidade do autor com o esporte. Nascido em Brasília, Chico Macedo reúne em seu primeiro livro textos escritos desde a época da Copa da Alemanha em 2006, aperfeiçoados ao longo de 10 anos.

Assessor de comunicação na Defensoria Pública da União (DPU), especialista em jornalismo investigativo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em gestão pública pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), o autor traz para a literatura a paixão pelo esporte. “Sou um peladeiro desde sempre. Como minha família é mineira, sou torcedor do Cruzeiro porque meu pai passou a integrar a torcida em 1966 — uma data importante, em que o time conquistou a taça no Campeonato Brasileiro ao vencer o Santos por 5 a 0”, relembra. Na época, o pai era morador da cidade de Januária (MG) e acompanhava as partidas do time pelo rádio.

“Sou um peladeiro desde sempre. Como minha família é mineira, sou torcedor do Cruzeiro porque meu pai passou a integrar a torcida em 1966"

Apesar de toda criança sonhar em ser um jogador de futebol, Chico nunca teve essa pretensão. O sonho dele era trabalhar nos bastidores. Por isso criou os blogs Pinóquio News e Chico Macedo, que compartilhavam conteúdos relacionados ao tema. Foram os artigos publicados ao longo de 10 anos nessas plataformas (entre 2006 e 2016) que, reunidos, se tornaram o Meu futuro livro sobre futebol.

A ideia do livro é mostrar a força do esporte como uma maneira para falar a respeito da vida, trabalho em equipe, vaidade, confiança e como ele se insere no contexto social. Tudo em uma linguagem fácil, bem-vinda aos mais leigos.

O desafio de se auto publicar

Meu futuro livro sobre futebol foi lançado em 2016 e contou com mil cópias. O processo de criação foi trabalhoso, visto que ele mesmo o fez. Dois anos foram necessários entre o processo de parar o blog, editar os textos, revisar e reler o conteúdo até a publicação. “É um projeto que foi bem-sucedido do ponto de vista literário e financeiro. Não posso dizer que ganhei muito dinheiro com o livro, mas de forma alguma perdi”, acrescenta o autor.

Sobre os desafios de se auto publicar, Chico pontua que por ser um projeto solo, sem ajuda de uma empresa do ramo, se preocupou em ter olhares de fora. “Como eu não tinha uma editora, entendia que eu não podia ser apenas um doido que tem a vaidade de publicar e tem o dinheiro para pagar a edição”, afirma. Com isso, ele reuniu dois amigos para ajudá-lo com o design da capa e a criação de ilustrações dos capítulos. “A vaidade faz parte do projeto, mas como não tinha uma editora chancelando o trabalho, achava ser necessário um apoio crítico”, acrescenta.

"A vaidade faz parte do projeto, mas como não tinha uma editora chancelando o trabalho, achava ser necessário um apoio crítico"

Quem o auxiliou nessa parte foi Sérgio Rodrigues, ex-professor do autor, crítico literário e escritor de obras como O drible; Elza, a garota; O homem que matou o escritor; e Sobrescritos. Após a leitura do livro de Chico, Sérgio foi responsável pelo prefácio, em que falou “O que dá molho a essa salada é a linguagem do futebol, o futebol-linguagem, que o Chico domina como poucos”.

O projeto independente contou com livrarias parceiras, como a Livraria do Chiquinho na Universidade de Brasília e algumas em que o tema principal é o futebol. “Fiz uma conta, de que, se eu imprimisse uma quantidade x do livro e vendesse 35% ou 40% deles no valor que estabeleci, pagaria a gráfica. E consegui isso em dois meses”, comemora.

A importância do futebol na sociedade

Entre o trabalho como assessor e o exercício da escrita, Chico Macedo diz ainda acompanhar os campeonatos e demais jogos dentro e fora da capital, sendo um fã de futebol inveterado. “Fui um adolescente com quase um tema único, o futebol, mas a vida adulta nos obriga a ter outros assuntos. Não me limito mais, porém o universo futebolístico ainda faz parte da minha identidade como brasileiro e como pessoa. Inclusive, muita gente me conhece como aquele cara que anda sempre com a blusa do Cruzeiro — inclusive esse era meu apelido. Negar isso é negar minha trajetória”.

Nos últimos dois anos a literatura vem trazendo novas oportunidade ao escritor. “Pude dar uma palestra sobre a importância de acreditarmos em nosso sonho e na nossa arte para jovens infratores da Papuda, que leram o livro e deram retorno”, e completa: “O melhor elogio que recebo é a pessoa dizer como é um livro gostoso de ler. Essa é minha forma de me aproximar e dar meu recado através da escrita”.

Acompanhe entrevistas com outros escritores de Brasília que trazem a temática do futebol para a literatura clicando aqui.