Não mexam com a UnB
- Redação

- 2 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de mai. de 2019
Peço aos leitores desta coluna duas coisas: primeiro, perdão pela ausência na semana passada. Segundo, permissão para tomar outros rumos nesta conversa às vezes um tanto unilateral. Hoje não falaremos propriamente de literatura, embora o conhecimento seja um de seus pilares e seja próprio dos escritores erguer a voz quando ele está em risco. Hoje eu quero falar sobre a Universidade de Brasília (UnB).

Todos os grandes intelectuais do mundo tinham um lugar cativo em alguma academia que os adotou. A academia é, por excelência, um espaço de liberdade e criação. Não me considero uma grande intelectual, mas, como "produto da balbúrdia" e filha desta casa que agora enfrenta ataques e cortes de orçamento, preciso comprar essa briga.
A UnB me acolheu, forasteira e menina da roça que era, há exatos dez anos. Mal sabia eu que ingressava em outro mundo, semelhante àquela jornada que fazemos quando abrimos um livro. Aliás, curiosamente, essa foi uma de minhas primeiras impressões naqueles corredores vazados, protegidos pelas paredes descoloridas: ali, as pessoas pareciam viver na mitologia própria de suas histórias, e como liam. Somente pelas páginas dos livros sabiam. E amavam saber.
A UnB era a minha Hogwarts. Era a minha Nárnia. Era todos os principados de imaginação transportados para um espaço concreto. Um lugar onde os sonhos eram discutidos com atenção, onde não havia espaço para preconceitos e se avolumavam as políticas de ingresso para os mais vulneráveis. Nos espaços de discussão, dava-se sempre o devido valor às ideias, antes do produto, todo mundo tinha uma voz. Sem mencionar a qualidade dos professores que, no meu caso particular, foram inspiração e exemplo para perseguir o sucesso e encontrar meu caminho.
Atacar esta universidade, desconsiderá-la enquanto espaço de produção de conhecimento e grandeza, faz meu coração se partir. Porque a UnB foi feita para o povo e para cruzar gerações. Sempre foi um desejo meu, por exemplo, que meus filhos pudessem exercer esse direito de aprendizado livre e sem amarras um dia, quando chegasse a sua vez. É muito triste pensar nos impactos que decisões equivocadas podem provocar, embora eu jamais acredite em um encerramento.
Isso também vai passar, apesar de tudo.
Um espaço feito para resistir, a casa de encontros idealizada por Darcy Ribeiro, jamais vai se render à pobreza de espírito.

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O Quadrado Literário separou para vocês dois livros, que falam sobre a história e a arquitetura da UnB. Confira:




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