Precisamos falar sobre Martha Batalha
- Redação

- 30 de mai. de 2019
- 2 min de leitura
Quem está por dentro das notícias do mundo cultural deve ter ouvido falar: “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, um filme com Fernanda Montenegro no elenco, foi a primeira película brasileira a vencer a mostra “Um Certo Olhar”, do Festival de Cannes. O filme foi ovacionado e aplaudido de pé. Nada mais justo do que dedicar esta coluna à autora que escreveu o livro homônimo, que retrata as agruras da dona de casa Eurídice e todas as vidas que ela poderia ter tido. Um dos melhores nomes da literatura brasileira contemporânea, em minha opinião. Trata-se, é claro, de Martha Batalha.
A vida invisível de Eurídice Gusmão, o livro, tem uma história peculiar (e das mais incríveis que já ouvi). Uma história que mostra como o mercado editorial, pelo menos no que se refere às grandes editoras, ainda é rígido e pouco afável aos estreantes. O que acontece é que Martha Batalha procurou várias editoras para ser a casa da sua Eurídice. Foi prontamente recusada. Até que, auxiliada por uma agente (felizmente, ela tinha bons contatos!), conseguiu vender a obra na Feira de Frankurt, uma das mais prestigiadas feiras literárias internacionais. Martha Batalha foi um sucesso entre as editoras estrangeiras. Teve os direitos vendidos para mais de dez casas. Desta forma, chamou a atenção da Companhia das Letras (desculpa, eu sei que puxo o saco da Companhia, ME PERDOEM), que finalmente comprou os direitos do livro.
O livro de estreia desta escritora é uma singela homenagem à invisibilidade e a todas as mulheres que, dedicadas ao lar, aos maridos e a seus filhos, deixaram de existir enquanto indivíduos. Martha Batalha fala sobre uma questão muito delicada e interessante, que é esse lento processo de extermínio cometido pelo machismo: para além das tragédias e dos homicídios, que também existem, o extermínio das possibilidades.
No livro, é deixado bem claro que Eurídice é uma mulher genial. Seja na cozinha, na costura, nos projetos que vai tocando para fugir do tédio. Mas, ao mesmo tempo, ela vai deixando de acreditar em si mesma. Quando conhecemos a história de sua vida, e de sua irmã, vemos por que isso acontece.
Martha Batalha tem uma prosa leve, fácil de ler, bonita. O segundo livro dela também é incrível: Nunca houve um castelo, que reconstitui a saga improvável de uma família sueca no Rio de Janeiro. Há ali um tom de fantástico, de humor delicado, que lembra as tradições de autores como Gabriel Garcia Marquez e Isabel Allende.
Precisamos louvar, portanto, a existência de Martha Batalha. E ler os seus livros, para garantir que ela seja sempre visível, como merece.





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